5 Setembro 2025

Estudo: Previsões Climáticas de 30 Anos Atrás Foram Surpreendentemente Precisas

Uma nova análise de dados de satélite coletados ao longo de três décadas revela uma verdade impressionante: as projeções sobre a elevação do nível do mar feitas em meados da década de 1990 estavam notavelmente corretas. A descoberta, publicada no periódico de acesso aberto Earth’s Future da União Geofísica Americana, vem de uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade de Tulane.

A Precisão das Projeções Passadas

Por mais de 30 anos, satélites têm monitorado continuamente a mudança no nível global dos oceanos. Essa longa série de dados permitiu que os pesquisadores finalmente testassem a validade dos primeiros modelos climáticos.

“O teste definitivo para as projeções climáticas é compará-las com o que de fato aconteceu, mas isso exige paciência, pois leva décadas de observações”, explica o autor principal do estudo, Torbjörn Törnqvist, professor de Geologia no Departamento de Ciências da Terra e Ambientais. “Ficamos bastante surpresos com a qualidade daquelas primeiras projeções, especialmente considerando quão rudimentares eram os modelos da época em comparação com o que temos hoje.”

Törnqvist acrescenta que os resultados são uma forte evidência da compreensão científica sobre o clima. “Para quem questiona o papel dos humanos na mudança do nosso clima, aqui está uma das melhores provas de que entendemos há décadas o que está realmente acontecendo e que podemos fazer projeções confiáveis.”

O Fator Subestimado: O Derretimento do Gelo

Os modelos antigos, embora precisos na tendência geral, não acertaram em todos os detalhes. Em 1996, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicou um relatório que projetava um aumento de quase 8 cm no nível do mar ao longo dos 30 anos seguintes. O valor real observado foi de 9 cm, um resultado notavelmente próximo.

No entanto, o relatório subestimou o papel do derretimento das camadas de gelo em mais de 2 cm. Naquela época, o conhecimento sobre como o aquecimento das águas oceânicas poderia desestabilizar os setores marinhos da camada de gelo da Antártida era limitado. Além disso, o fluxo de gelo da Groenlândia para o oceano tem sido mais rápido do que o previsto.

Essa dificuldade em prever o comportamento das camadas de gelo no passado carrega uma mensagem importante para o futuro. As projeções atuais consideram a possibilidade, ainda que de baixa probabilidade, de um colapso catastrófico das camadas de gelo antes do final deste século, o que afetaria drasticamente as regiões costeiras de baixa altitude em todo o mundo.

Uma Nova Era na Medição do Nível do Mar

Para refinar as previsões, é crucial entender os componentes individuais que contribuem para a elevação do nível do mar. Existem dois fatores principais: o componente estérico, que é a expansão da água do oceano à medida que ela aquece, e o componente baristático, que é o aumento da massa de água nos oceanos devido ao derretimento de geleiras e camadas de gelo.

Nos últimos 20 anos, cientistas contaram com mapas de alta resolução do campo gravitacional da Terra, obtidos por satélites, para calcular as variações na massa global dos oceanos. Recentemente, geodestas encontraram uma maneira de estender esse registro em mais 10 anos, criando a primeira série temporal observacional da massa oceânica global de 1993 até o presente.

“Esta é a primeira série temporal da massa oceânica global baseada em observações diretas” que cobre este período, afirmou Jianli Chen, pesquisador da Universidade Politécnica de Hong Kong e coautor do novo estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences.

Combinando Tecnologias de Satélite para um Registro Completo

A conquista foi possível ao reconciliar duas tecnologias. A mais antiga, chamada Satellite Laser Ranging (SLR), dispara lasers de estações terrestres para satélites em órbita. Embora seja usada há décadas, sua baixa resolução espacial era uma limitação. “Como observar, por exemplo, a mudança de massa oceânica causada pelo derretimento da Antártida com uma técnica de resolução espacial de 4.000 quilômetros?”, questiona Chen.

A tecnologia mais nova são as missões GRACE (Gravity Recovery and Climate Experiment) e sua sucessora, GRACE-FO. Elas usam um par de satélites que se seguem, medindo minúsculas variações na gravidade causadas por mudanças na massa da superfície terrestre. O GRACE oferece uma resolução 10 vezes maior que o SLR, mas seus dados começaram apenas em 2002 e tiveram uma lacuna de 11 meses entre as duas missões.

A equipe de pesquisa comparou os dados de SLR e GRACE no período em que ambos estavam ativos (2003-2022) e descobriu uma correspondência quase perfeita. O SLR indicou uma elevação baristática de 2,16 mm/ano, enquanto o GRACE mediu 2,13 mm/ano. Essa validação permitiu o uso confiável dos dados mais antigos do SLR para estender o registro.

Estendendo o Histórico e Olhando para o Futuro

Com o registro estendido até 1993, os pesquisadores calcularam que a elevação do nível do mar devido ao aumento de massa (baristática) foi de 1,75 mm/ano no período de 1993-2022. A taxa mais baixa no início do período confirma a aceleração recente da perda de gelo, principalmente na Groenlândia.

“Estender o registro… é uma conquista importante”, comentou Bryant Loomis, chefe do Laboratório de Geodésia e Geofísica do Goddard Space Flight Center da NASA, que não esteve envolvido no estudo. “Isso permite a desagregação da mudança total do nível do mar, medida por altimetria, em seus componentes baristático e estérico.”

Essa capacidade de medir com precisão o passado é fundamental para o futuro. Sönke Dangendorf, coautor do primeiro estudo, ressalta que a prioridade hoje é refinar os dados globais em previsões localizadas para orientar o planejamento em regiões vulneráveis. A continuidade do monitoramento por satélite, com a futura missão GRACE-Continuity (GRACE-C) planejada para 2028, é mais importante do que nunca para a tomada de decisões informadas que beneficiarão as populações costeiras.