10 Abril 2025

Desempenho da Saraiva reflete desafios persistentes no setor editorial

A Saraiva Livreiros S.A., tradicional empresa do setor varejista brasileiro, especializada em produtos de cultura, educação e tecnologia, continua enfrentando um cenário financeiro desafiador. Em 12 de dezembro de 2023, as ações da companhia (SLED4) fecharam estáveis, cotadas a R$ 1,60, refletindo a falta de otimismo do mercado em relação ao futuro da empresa.

Nos últimos 12 meses, os papéis da Saraiva acumularam uma queda de 46,66%, enquanto no acumulado de 2025, a desvalorização já chega a 33,04%. O desempenho negativo é um reflexo direto das dificuldades enfrentadas pela companhia, que, apesar de manter margens operacionais positivas, sofre com elevados níveis de endividamento e um patrimônio líquido negativo.

Segundo os dados mais recentes, a Saraiva registrou uma receita líquida de R$ 74,31 milhões, com lucro líquido de R$ 68,9 milhões, representando uma margem líquida impressionante de 92,71%. O Ebitda, que mede o resultado operacional da empresa antes de juros, impostos, depreciação e amortização, foi de R$ 67,82 milhões, com margem de 91,25%. No entanto, esses números contrastam com a realidade do balanço patrimonial: a companhia possui um patrimônio líquido negativo de R$ 381,31 milhões, uma dívida bruta de R$ 35,98 milhões e dívida líquida praticamente no mesmo patamar, de R$ 35,88 milhões.

Fundada oficialmente em 1947, a história da Saraiva remonta a 1914, quando o livreiro português Joaquim Ignácio da Fonseca Saraiva abriu o sebo Saraiva & Cia em São Paulo. A empresa cresceu e se transformou em uma referência no setor editorial, especialmente a partir da década de 1970, quando passou a publicar livros didáticos e paradidáticos. Em 1972, tornou-se uma companhia aberta, marcando um novo capítulo em sua trajetória de crescimento.

Nas décadas seguintes, a Saraiva diversificou suas operações. Nos anos 1980, iniciou seu próprio serviço de distribuição de livros e, nos anos 1990, ampliou seu portfólio de publicações, além de entrar no comércio eletrônico em 1998. Aquisições estratégicas também fizeram parte da estratégia de expansão: a Editora Atual em 1998, a Pigmento Editorial S.A. em 2007, o grupo Siciliano em 2008 e a Editora Érica Ltda. em 2013.

A empresa também investiu em tecnologia. Lançou a plataforma Saraiva Digital Reader e o sistema de ensino Agora em 2010, e, em 2014, apresentou o Lev, seu leitor digital portátil. Essas iniciativas mostraram a disposição da Saraiva em se adaptar às transformações do mercado, especialmente com a digitalização do consumo de conteúdo.

Contudo, a partir de 2015, a companhia iniciou um processo de desinvestimento, vendendo boa parte de seus ativos editoriais até 2017. O acúmulo de dívidas levou a Saraiva a entrar com pedido de recuperação judicial no final de 2018, quando a dívida ultrapassava os R$ 674 milhões. O plano de recuperação, que também incluiu a controlada Siciliano, foi aprovado no ano seguinte, mas os resultados ainda não sinalizam uma recuperação consistente.

Atualmente, a empresa opera com o conceito omnichannel, integrando lojas físicas e virtuais. Seu portfólio inclui livros, CDs, DVDs, periódicos, softwares multimídia, artigos de papelaria, brinquedos educativos e alguns produtos eletrônicos. Também oferece serviços como cartão de crédito da marca própria, que chegou a emitir 770 mil unidades em seu auge.

Apesar da tentativa de modernização e diversificação, os números indicam que a Saraiva ainda enfrenta obstáculos estruturais. Com indicadores negativos de retorno sobre o patrimônio líquido (-18,07%) e sobre o capital investido (-10,5%), a empresa continua em busca de alternativas para estabilizar suas finanças e retomar o crescimento.

A trajetória da Saraiva é marcada por inovação e tradição, mas o futuro depende da capacidade da companhia em se reinventar em um mercado cada vez mais competitivo e digitalizado.